terça-feira, novembro 23, 2004

Ju On: The Grudge (2003)

Estou virando fã dos filmes de terror japoneses. Por uma razão bem simples, eles são simplesmente apavorantes. Nenhum filme americano atinge tão visceralmente os medos mais íntimos do ser humano.

Não que "Ju On: The Grudge" seja um daqueles filmes violentos, muito pelo contrário, é pela sutileza e habilidade em criar situações tensas sem apelar para a violência gratuita é que o cinema japonês tem produzido filmes de terror que servem como referência mundial do gênero. Não é à toa que Hollywood volta, sempre que pode, os olhos para aquela ilha longínqua do Pacífico. Ringu foi o primeiro a ser incorporado no cinema americano com o título de "O Chamado", agora é a vez de "Dark Water" dirigido por Walter Salles e também "The Grudge" que deve estar para estrear nos EUA.

Ju On e The Grudge são sinônimos da palavra portuguesa "Rancor" e eis todo o vínculo deste filme. Segundo o enredo, pessoas que morrem de forma violenta e alimentando rancor não conseguem descansar. Além disto, qualquer um que entre no ambiente por elas habitado também é amaldiçoado com a morte. Tudo gira em torno de uma casa na qual habita uma velha e abandonada senhora. Narrado de maneira não-linear, com retrocessos súbitos ao passado e avanços para o futuro, "Ju On: The Grudge" é composto por uma série de capítulos, os quais apresentam a morte dos indivíduos que invadem o território daquela família que morreu violentamente na casa.

Além de uma fotografia excelente, a trilha sonora e os efeitos sonoros representam uns 80% de todo o clima de tensão no filme. Simplesmente apavorante e envolvente. Muitos elementos presentes em "Ringu" também são explorados neste filme dirigido por Takashi Shimizu, como vídeos insólitos, telefonemas misteriosos e personagens dotados de percepção extra-sensorial.

É um filme essencial para aqueles que gostam do gênero e lhes garanto que há várias cenas de arrepiar!

segunda-feira, novembro 22, 2004

Histórias Mínimas (2002)



O idoso Justo Benedictis foge da casa de seu filho quando lhe informam que seu cão, desaparecido há três anos, foi avistado numa cidade próxima. Maria Flores é sorteada num concurso e deve empreender uma viagem para receber o prêmio. Roberto é um vendedor itinerante ocupado em fazer uma surpresa de aniversário para o filho de uma cliente pela a qual ele está apaixonado.

Três histórias distintas com personagens singulares e humanos. Três destinos que se entrelaçam e se distanciam.

"Histórias Mínimas" é um filme do qual emana uma humilde sensibilidade. Pessoas comuns se encontram na solitária vastidão dos pampas da Patagônia. A opção do diretor Carlos Sorin em trabalhar, em sua maioria, com não-atores transmite uma autenticidade que apenas uma conversa de bar ou a alegria de uma roda de chimarrão pode possuir. Não há diálogos retóricos e teatrais, apenas a expressão mais genuína de indivíduos cujo o mundo se restringe às planícies incomensuráveis dos pampas.

Objetivos e conquistas simplórias num mundo capitalista, no entanto, essencialmente humanas. "Histórias Mínimas" possui o mérito de cativar por sua ingenuidade.

terça-feira, novembro 16, 2004

Minha Vida Sem Mim (2003)



Ann descobre que está com um câncer terminal.

Ao avaliar sua vida, ela passa em revista os sonhos que não cumpriu, os projetos que não teve, as privações que sofrera e o marido e filhas que terá de deixar.

Decidida a viver plenamente seus últimos meses de vida, Ann redige uma lista com metas a serem cumpridas, entres as quais deixar fitas cassetes gravadas para serem tocadas para suas filhas em seus aniversários até elas completarem 18 anos, fazer amor com outro homem e arranjar uma nova esposa para seu marido.

No entanto, apesar da morte iminente pairando, "Minha Vida Sem Mim" não é uma história melancólica nem saudosista. Ann não se arrepende de como ela encaminhou sua vida até aquele momento; ela reconhece sim que ela e seu esposo não foram bem-sucedidos, que a amargura de sua mãe é algo prejudicial, e que ela devia ter visitado seu pai na cadeia antes.

Assim como no poema de Álvaro de Campos, o mundo continuará sua marcha após a morte de Ann, nada muda, e as pessoas esquecerão dela até que, um dia, será como se ela jamais houvesse vivido.

(...)

Fazes falta? Ó sombra fútil chamada gente!

Ninguém faz falta: não fazes falta a ninguém...

Sem ti correrá tudo sem ti.

Talvez seja pior para outros existires que matares-te...

Talvez peses mais durando, que deixando de durar...

(...)

Fernando Pessoa, Poesia de Álvaro de Campos. Publicações Europa-América, p. 100.

domingo, novembro 14, 2004

Blog de Contos

Eu acabei de criar um blog com os meus meus contos. Quem quiser dar uma olhada é só clicar no link abaixo

  • www.miriades.blogspot.com
  • sexta-feira, novembro 12, 2004

    Geração Roubada (2002)



    Que filme espetacular!

    Ainda estou sem palavras para poder expressar todo o maravilhamento que este filme me causou.

    Em 1931, foi criada uma lei na Austrália para a integração dos aborígenes na sociedade branca. Graças a esta famigerada lei, famílias eram separadas e as crianças transportadas para campos de aprendizagem, onde elas eram "civilizadas" e condicionadas a aceitarem seu papel de criadas e subalternas dos brancos.

    "Geração Roubada" é a trajetória de três meninas, Molly, Grace e Daisy, que, após terem sido conduzidas a um destes acampamentos, fogem, ambicionando retornar para sua terra natal, distante quase três mil quilômetros de onde elas estavam.

    No entanto, esta empreitada não significa apenas um desejo de retorno ao lar, mas sim uma reafirmação de sua própria identidade, um atestado de que elas não precisavam adotar hábitos e cultura alheias porque elas já pertenciam a uma cultura. Somente uma motivação tão visceral e intrínseca justificaria aquela força de vontade que as fazia caminhar, fugir dos perseguidores e passar fome.

    Esta produção australiana é tão envolvente, que é impossível deixar de torcer para que as meninas consigam realizar seu intento.

    Baseado numa história real (o que torna o filme ainda mais supreendente), "Geração Roubada" é magnifíco; com a participação de Kenneth Branagh, que enriqueceu ainda mais a história, e uma excelente trilha sonora composta por Peter Gabriel.

    Não é um filme com muitas peripécias, mas é maravilhoso. Recomendo efusivamente e creio que quem assistir não se arrependerá.

    Simplesmente lindo e comovente.

    quarta-feira, novembro 10, 2004

    O Espanta Tubarões (2004)



    Este é a primeira grande animação afro-americana que assisti em minha vida, já que o protagonista possui todas as característica físicas e gestuais de um negro norte-americano.

    O peixinho Oscar (voz de Will Smith, mas que na versão dublada é a de Paulo Vilhena [!]) é um morador de um gueto dos corais, cuja maior ambição é se tornar rico, famoso e morar na cidade alta e iluminada.

    Por causa desta sua sede de sucesso, Oscar se endividou com seu patrão, o qual, por acaso, era um pau-mandado do um chefão da máfia (inspirada obviamente na máfia italiana), o aterrorizanote tubarão, Don Lino. Oscar e o filho afrescalhado de Don Lino, Lenny, unem-se então para mudar suas vidas. Num acidente, o irmão de Lenny morre após ser atingido por uma âncora e todos os peixes do coral passam a acreditar que Oscar é o responsável. Ele se torna um herói. Mas Don Lino inicia uma busca por vingança à procura do assassino de seu filho.

    Se este filme fosse uma produção convencional, com atores reais e não animados, certamente seria um fiasco. A história só é divertida por causa do simulacro da realidade que o mundo subaquático representa. Na verdade, a indústria de animação deixou de explorar a fábula com um sentido educativo, mas sim como uma representação "ipsis litteris" do mundo exterior. Em "O Espanta Tubarões" estão inseridos o mundo num bairro pobre, a ascensão social à qualquer preço, a mulher interesseira, o homossexualismo, a malandragem, o crime organizado. É difícil saber em até que ponto isto é instrutivo para as crianças que vão assistir a este filme, já que foi feita uma escolha consciente por abandonar o mundo lúdico, em detrimento do mundo como ele é.

    "O Espanta Tubarões" é o típico filme norte-americano no qual a hipocrisia é assumida como uma falha de caráter a ser redimida, e no qual todas as peripécias da história são a tentativa de manter a mentira inicialmente elaborada. Nada original, mas com belas imagens. Veio na onda de "Procurando Nemo", no entanto, não atinge a riqueza da história da Dysney.

    quarta-feira, novembro 03, 2004

    A Última Noite (2002)



    Edward Norton é Montgomery Brogan, um traficante de drogas condenado a sete anos de prisão, cuja vida acompanhamos em suas 24 últimas horas de liberdade. Neste período, ele tem de aproveitar o tempo para rever seu pai, amigos de infância, o seu antigo chefe da máfia russa e avaliar o tudo o que perdeu.
    O filme não tem o mesmo impacto do Spike Lee independente, mas nem por isto é desprezível. O diretor conseguiu unir sua extrema perspicácia e acidez a um orçamento que o permitiu produzir um filme com uma fotografia excelente, com um ótimo elenco e um bom roteiro.
    Duas digressões fazem do filme algo de memorável: a primeira, é quando Monty vai ao banheiro do bar de seu pai e encontra escrito no espelho um "Foda-se". Então, ele despeja o seu ódio sobre tudo e todos ao seu redor, quando, na verdade, tal revolta não passa de uma fuga para a própria cagada que ele fez. A segunda, é quando seu pai o instiga a fugir e criar uma nova vida. Estas duas cenas refletem, em grande parte, todo o clima da história, numa distinção completa entre o que se fala e o que se faz e como o que realmente conta, no fim, são os atos praticados.