quinta-feira, dezembro 23, 2004

Toda Nudez Será Castigada (1973)




"- Herculano, aqui quem fala é uma morta!"

Eis a primeira fala do filme dirigido por Arnaldo Jabor, inspirada na peça homônima de Nelson Rodrigues intitulada "Toda Nudez Será Castigada".

A trama é complexa e repleta de reviravoltas. Herculano é um viúvo que, para deixar a tristeza causado pelo falecimento da esposa, é estimulado por seu irmão a procurar uma prostituta chamada Geni. Puritano, Herculano, à princípio, rechaça a idéia, mas logo cai nos braços da meretriz.

Contudo, Herculano havia prometido a seu filho, Serginho, que jamais se deitaria com outra mulher. Ao descobrir que seu pai violara o juramento, Serginho se revolta e a família de Herculano se desestrutura.

As críticas de Nelson Rodrigues são explícitas: a família tradicional que esconde debaixo do tapete sua podridão, uma classe social decadente que vive da memória do passado, o puritanismo hipócrita, a dualidade entre santidade e pecado.

"Toda Nudez Será Castigada" é aquele tipo de filme que causa uma certa repulsa inicial, derivada, principalmente, pelas terríveis produções cinematográficas brasileiras das décadas de 70 e 80, mas logo esta produção mostra a que veio. Ao contrário do cinema da "Boca do Lixo" e da pornô-chanchada, o filme de Jabor, apesar de um áudio terrível e das imagens desgastadas, possui uma história riquíssima e bem construída, graças, em grande parte, ao excelente dramaturgo que foi Nelson Rodrigues.

É um filme que cativa por sua história, por sua psicologia e por algumas surpresas. Vale a pena conferir e redescobrir o bom cinema brasileiro de outrora.

quarta-feira, dezembro 01, 2004

Os Incríveis (2004)



"Os Incríveis" é o mais longo filme de animação já feito até os dias de hoje, mas ele é tão bem realizado e divertido que se deixa o cinema com a sensação de querer mais.
Certamente, a animação não foi concebida visando o público infantil, já que as temáticas abordadas dizem respeito, quase em sua totalidade, a aspectos e preocupações do universo adulto. É maravilhoso como a história de uma família de super-heróis se torna secundária à problemática de uma família urbana de classe média contemporânea.

O Sr. Incrível é um super-herói que viu seus dias de glória desaparecerem subitamente, quando a população começou a reagir negativamente contra os indivíduos dotados de super-poderes. O elogio à mediocridade o forçou a ter uma vida comum e tediosa, mesmo ele sabendo que possuía toda a potencialidade para ajudar as pessoas. Apesar da resistência da esposa, a Mulher-Elástica, o Sr. Incrível continou protegendo, na surdina, a humanidade, até que uma misteriosa proposta lhe dá a esperança de retornar à ativa e recuperar todo o status de super-herói.

Com cenas de empolgantes e vilões maquiavélicos, "Os Incríveis" lembra muito os filmes de ação americanos das décadas de 60 e 70, numa era acossada pela a iminência da uma guerra nuclear. No entanto, atualmente, já que o máximo de preocupação que temos é qual será o próximo país que os EUA bombardeará, o foco da trama se transfere dos perigos de um inimigo maluco para a periculosidade de uma mentalidade castradora e alienante. "Os Incríveis" critica a mentalidade do "nivelamento por baixo" tão comum em escolas e, de modo geral, na própria sociedade. O filme é a defesa do desenvolvimento das qualidades e dos potenciais específicos de cada indivíduo para que, deste modo, ele possa contribuir para o aperfeiçoamento de toda a estrutura social.

"Os Incríveis" é um filme inteligente e extraordinariamente bem produzido, inclusive com uma trilha sonora da melhor qualidade, ao espírito de James Bond. Merece ser incluído entre as melhores animações já feitas pelas produtoras norte-americanas e eu não me espantaria se ele fosse considerado como o melhor filme deste ano. É realmente incrível!

Novo conto publicado - Improvisação em Tom Maior

O conto Improvisação em Tom Maior já está publicado no blog

www.miriades.com.br

Entrem e confiram!

Abraços,

Henry Alfred.

Em Nome de Deus (2002)




É para o convento das Irmãs Madalenas que são enviadas as meninas consideradas promíscuas. Baseado numa rígida e autoritária disciplina, as reclusas são obrigadas a fazer trabalhos forçados, a aceitar punições corporais e humilhações. Neste ambiente, três moças irlandesas, Bridget, Bernadette e Patricia, buscam razões e forças para sobreviverem. Baseado em fatos reais, "Em Nome de Deus" é um retrato comovente de uma sociedade regida sob uma deturpada visão católica, na qual há uma condencendência para com os homens, por eles estarem sempre sujeitos às tentações, enquanto que impera a intolerância em relação ao comportamento feminino. Além de abordar outras questões ainda mais tabuísticas e complexas como a crueldade e o materialismo das madres, a violação dos votos de castidade dos padres, a indiferença das família e o tênue limiar entre formação humana e corrupção.
"Em Nome de Deus" é um belo filme erigido sobre uma terrível situação social, que vigorou até meados dos anos 90.
Uma história cativante ao mesmo tempo que repulsiva, digna do peculiar cinema irlandês.