domingo, abril 24, 2005

Mar Adentro (2004)



Ramón Sampedro (Javier Bardem) é um homem há 28 anos condenado ao seu leito. Um acidente em sua juventude o deixou tetraplégico e, durante toda este tempo, Ramón lutou pelo direito de morrer.
O filme de Alejandro Amenábar é poético em todos os sentidos. Poesia quando retrata o desejo sereno de Ramón por libertar-se de sua condição; poesia em imagens, e poesia quando Ramón põe em um livro poemas da sua dor.
Numa época na qual vimos o duelo jurídico entre o marido e a família da norte-americana Terry Schiavo, um a favor e a outra contra a eutanásia, obras como "Mar Adentro" e "Menina de Ouro" são a justa transposição dos questionamentos sociais contemporâneos. Mais do que o filme de Eastwood, "Mar Adentro" aborda, por seu próprio caráter racional, uma série de indagações éticas acerca da eutanásia, da vida e da morte. O argumento legal utilizado pelos advogados de Ramón, de que, num Estado dito laico, tal decisão, a liberdade de privar-se da própria vida, não deve pautar-se por princípios teológicos, é das mais coerentes. Por outro lado, eleva-se também o questionamento sobre o que pode ser caracterizado como vida: se é a capacidade para locomover-se, conhecer novas coisas, a racionalidade ou a capacidade de amar. Para Ramón, sua condição não é digna, mas isto é apenas um exemplo de como cada indivíduo lida e compreende sua situação sob diferentes perspectivas. Para alguém que pautou sua existência pela liberdade, a incapacidade de mover-se é talvez o maior dos grilhões. Ramón tem a sua volta familiares e amigos que o amam, porém, para ele, ter isto sem a liberdade plena que caracteriza o individualismo moderno, não basta.
Sartre afirmou que o homem está condenado à liberdade; a única situação à qual ele não pôde escolher foi seu próprio nascimento, no entanto, após lhe ter sido concedida a existência, ele tem, ao menos intelectualmente, a possibilidade de escolha ilimitada. Para uma pessoa sem quaisquer limitações físicas, ao estar farta da existência, não há empecilho real algum para tirar sua própria vida. No caso de Ramón, contudo, o único meio possível para isto é com a assistência de alguém. Por que, quando alguém se suicida, ninguém cogita em processá-lo, enquanto que, no caso da eutanásia, aqueles que acolheram o pedido de alguém que conscientemente escolheu morrer, são?
Longe de sugerir uma resposta a esta complicada discussão ética, "Mar Adentro" suscita uma série de outras indagações. É um filme que, ao invés de cercear os sentidos de compreensão, expande de uma maneira muito inteligente este debate.

quarta-feira, abril 20, 2005

Os Intocáveis (1987)



Alguns poucos filmes na história do cinema já nascem clássicos, e "Os Intocáveis" é um destes filmes.
Inspirado numa história real, o filme dirigido por Brian De Palma aborda a turbulenta década de trinta em Chicaco, comandada pelos chefões do crime organizado e numa América esmagada pelo crash na bolsa de valores em 1929. Para combater Al Capone (Robert De Niro), o mais notório dos gansters, Eliot Ness (Kevin Costner) é instituído como o responsável para desmantelar a rede de corrupção e de tráfico de bebida comandada por aquele criminoso. Para tanto, ele reúne um singular grupo de policiais, que mais tarde viria a ser conhecido como "Os Intocáveis", dispostos a arriscar sua vida pela justiça.
Constituído por uma constelação de astros de primeira linha, Costner, De Niro, Sean Connery e Andy Garcia, "Os Intocáveis" é um arroubo de perfeição e qualidade. Com uma reconstrução histórica minuciosa, inclusive com a reprodução dos trajes da época feita por Giorgio Armani, o filme é um baluarte da luta até as últimas conseqüências por uma causa.
A trilha sonora é excepcional e a releitura feita por De Palma da cena da escadaria de Odessa, do "Encouraçado Potemkin" de Eisenstein, é memorável.
Um dos pontos altos do cinema internacional e obrigatório para os amantes da sétima arte.

quinta-feira, abril 07, 2005

Procurando Nemo (2003)



Marlin é um peixe-palhaço e pai de Nemo. Após a morte de sua esposa, vítima da cadeia-alimentar, Marlin converteu-se num pai super-protetor e, consequentemente, castrador.
No entanto, quando Nemo é capturado por mergulhadores, Marlin se vê obrigado a deixar a proteção dos recifes e aventurar-se numa perigosa jornada para recuperar seu filho.
Esta fábula é uma belíssima história de superação individual e de afeto. Tanto pai e filho são forçados a transpor seus próprios limites: Nemo, por possuir uma deficiência física (uma nadadeira menor do que a outra) e Marlin, por seu medo de viver novas experiências.
Além disto, o filme escrito e dirigido por Andrew Stanton é uma inversão dos esteótipos comuns neste tipo de apólogo. Os tubarões, comumente relacionados a antagonistas, fazem parte de uma sociedade de reabilitação alimentar cujo lema é: "Peixes são amigos, não comida", enquanto que os humanos, geralmente associados à racionalidade e aos princípios morais, são os verdadeiros predadores da natureza. São eles que invadem os ecossistemas ao quais não pertencem, subtraem deles elementos com o argumento de estarem auxiliando e os recolocam em ambientes artificiais.
Apesar da projeção de ambições e comportamentos humanos, realmente é possível se questionar em até que ponto que retirar um animal de seu habitat e tentar domesticá-lo é um ato louvável. A representação dos humanos em "Procurando Nemo" é apenas um exemplo de como a nossa consciência ambiental ainda é subdesenvolvida.
Por fim, esta produção premiada com o Oscar de Melhor Filme de Animação traz a impagável Dory, um peixe (fêmea) que possui um sério distúrbio de memória. Uma das personagens mais engraçadas que já vi e creio que sempre rirei com sua maravilhosa habilidade poliglota de conversar com as baleias.
Um filmes com belíssimas lições de vida, porém sem ser moralista; diversão para toda a família.