segunda-feira, maio 28, 2007

Shrek Terceiro (2007)


Shrek é obrigado a assumir o comando do Reino Tão, Tão Distante quando o rei Harold, pai de Fiona, adoece.
Mas os planos de retornar ao pântano vão por água abaixo quando o rei pede, antes de morrer, a Shrek que seja seu sucessor. Oprimido pelo trabalho burocrático e tedioso como governante, Shrek parte em busca do outro possível herdeiro ao trono, Arthur.
Neste meio tempo, O Príncipe Encantado decide se vingar de Shrek e tomar controle do reino, enquanto que, como se não bastasse, Fiona descobre estar grávida de alguns ogrozinhos.
Esta é a trama de "Shrek Terceiro".

Quando o primeiro filme da série foi lançado em 2001, ele rompeu com vários paradigmas das narrativas de contos-de-fada. Antes de tudo, no melhor estilo rabelaisiano e de acordo com o conceito de "carnaval" de Mikhail Bakhtin, há a inversão de papéis - o que é alto é rebaixado, o que é baixo é elevado. Numa fábula, o herói é aquele personagem repletos de virtudes e com vontade inquebrantável: um ideal a ser imitado. Porém, Shrek não é um herói; um monstro, que vive num pântano, temido por todos, feio e mal-educado. Ele não é movido por sentimentos nobres; numa busca egotista, ele só quer se livrar dos inconvenientes personagens de contos-de-fada que invadiram seu território.
O primeiro Shrek é humor de primeira linha, parodiando filmes conhecidos, com uma trilha sonora excepcional e produção gráfica estupenda.
O humor e as paródias se perdem gradativamente nas seqüências, tanto que "Shrek Terceiro" precisa se esforçar muito para arrancar algumas poucas risadas; as paródias, se existem, são tão escassas que mal podem ser identificadas. Mas a trilha sonora continua excelente e as animações estão melhores do que nunca.

Porém, "Shrek Terceiro" perdeu aquele caráter carnavalesco, de inversão de papéis. Shrek não é mais o anti-herói, ele assumiu o papel de herói, com toda uma ética moralista e objetivos nobres; o único traço destoante é sua aparência física, de resto, Shrek se tornou num papel heróico tradicional e, por isto, cansativo.

Há algumas cenas que chegam a empolgar, tal como quando as mulheres - a rainha, Fiona, Bela Adormecida, Branca de Neve, Cinderela e Rapunzel - partem para a luta. Contudo, no geral, há um quê de "já visto" em "Shrek Terceiro". Uma pena, para um personagem tão promissor.

E os ogrozinhos no final prenunciam que Shrek não parará por aí. É torcer para que o ogro verdão volte com mais vida e originalidade.


Também pode ser lido em
www.adorocinema.com

Acesse o Hotsite do filme

terça-feira, maio 22, 2007

Suicide Club (2002)


Este filme me foi muito bem recomendado... Porém, se arrependimento matasse, eu já estaria morto, sepultado e em decomposição, neste momento.

O enredo não é dos piores, aliás, até que poderia ser excelente, se não fosse a péssima execução.
Um clima de histeria coletiva domina o Japão, após mais de 50 garotas se jogarem na frente do trem. Outros suicídios ocorrem, então, surge o boato de que há um Clube do Suicídio (título do filme "Suicide Club").
O filme se sustenta até a primeira metade, apesar de sérias falhas estruturais, a ausência dum protagonista definido, uma trilha sonora bisonha e as piores atuações possíveis. Convenhamos também que atuação nunca foi muito o forte dos filmes japoneses e isto nunca desmereceu os trabalhos deles, pelo contrário, em alguns casos, quanto pior, melhor.
Mas este não é o caso de "Suicide Club", tudo nele é gritantemente ruim.
Porém, após a segunda parte, o filme descamba para uma seqüência de absurdos e para um mal gosto sem precendentes. Se há alguma resposta para o mistério do filme, ou ela é muito mal elaborada, ou fui incapaz de entendê-la. É daqueles filmes que acaba, você coça a cabeça e se pergunta:

- 'Tá, e daí?

Eu sou fã dos filmes japoneses (é claro que há um lapso entre Kurosawa e os filmes de terror), mas "Suicide Club" exigiu um baita saco! Só assisti até o final para saber se conseguia ficar pior. E conseguiu!

Acho que nestes anos que mantenho este blog, nunca fui obrigado a fazer uma resenha tão negativa sobre um filme, mas sempre há a primeira vez...

quinta-feira, maio 17, 2007

Rocky Balboa (2006)


Há alguns meses, fiz uma resenha sobre a série Rocky. Eu já sabia que um sexto filme do Rocky estava por vir, mas, mesmo assim, como o filme ainda não havia sido lançado, não sabia o que esperar.

Quando assisti o trailer pela primeira vez, senti um misto de expectativa e apreensão: expectativa, pois não posso esconder que sou fã deste personagem desengonçado; apreensão, pois sempre que surge uma seqüência, o fã teme que estraguem tudo que já foi feito. Basta se lembrar de "Matrix": o primeiro filme é excepcional, mas as duas seqüências são tão ruins que nos fazem detestar até o que era bom.

Tudo bem... Assisti a "Rocky Balboa", o sexto da série, com mente aberta e disposto a detoná-lo se fosse o caso. Mas felizmente não me decepcionei.

Rocky (Sylvester Stallone) já está caindo aos pedaços. É um homem que vive do passado, do tempo em que era idolatrado, que estava no auge da forma, em que a esposa ainda vivia (sim, a Adrian morreu!), em que o filho lhe dava valor. Ele abriu um restaurante italiano, mora sozinho numa pocilga e revive, todo ano, os lugares no qual costumava ir com Adrian. Simplesmente, uma figura deprimente.

No entanto, na TV, especialistas discutem a carreira do atual campeão dos peso-pesados, Mason Dixon, uma máquina de matar, mas sem carisma algum. Então, realizam uma simulação computadorizada duma luta entre um Rocky em plena forma e Mason Dixon. A conclusão é a de que Rocky ganharia.

Isto leva Rocky a querer a voltar a lutar. Porém, o que ele não espera é que os empresários de Dixon lêem a manchete sobre a volta de Rocky e sugerem uma luta entre os dois. Rocky sabe que não tem chance alguma, mas mesmo assim, dá a cara a tapa; afinal de contas, é o que ele mais sabe fazer.

O filme é emocionante. Há algo em Rocky de extremamente humano e, quando ele aconselha seu filho de que, na vida, o que importa é agüentar a surra que elas nos dá, ele não fala a apenas Rocky Jr., ele ensina a todos nós.

O que mais surpreende é a unidade que a série manteve em todos estes anos. Por mais que lembre muito o primeiro filme, com treinamento surrando pedaços de carne, correndo por Filadélfia, lutas na qual ninguém se protege dos socos, "Rocky Balboa" é um ótimo desfecho para o personagem.

Se é que é o desfecho...

Mais Estranho que a Ficção (2006)



Dizer que Hollywood passa por um período negro não é novidade alguma.

Há uma crise criativa incrível no cinema comercial norte-americano. Parece que o medo de rejeição dominou completamente os roteiristas e, para evitarem o fim amargo dos que ousam, tudo que se produz hoje em dia tem uma cara insossa de enlatados. Filmes saídos direto da linha de montagem. O festival de clichês que se acumulou nas últimas cinco dédacas faz com que quase qualquer filme, drama ou comédia, seja previsível. Espantamo-nos quando podemos dizer:

- Nossa, que filme diferente!

O advento de Charlie Kaufman, com seu "Quero Ser John Malkovich", foi um sopro de inovação em meio ao desgastado paradigma dos filmes americanos. Num misto de realismo mágico e absurdo kafkiano, Kaufman apresentou a luz no fim do túnel: é possível ser criativo e, mesmo assim, comercial.

No melhor estilo kaufmanesco, surge "Mais Estranho que a Ficção", dirigido por Marc Foster e roteiro de Zach Helm. Um filme inovador, mas sem jogar a criança com a água do banho. Aproveita o que há de melhor no paradigma tradicional da escrita de roteiros -- apresentação, ponto de virada, desenvolvimento, ponto de virada II, desfecho --, mas com uma temática diferente e metalingüística.

Harold Crick, interpretado por Will Ferrel, o queridinho cômico do momento, é um auditor da Receira Federal. Num dia convencional, ele começa a ouvir uma voz, narrando tudo que ele faz. Primeiro, ele pensa estar louco, mas logo percebe que esta sugestão não é satisfatória. Crendo-se ser um personagem numa história literária, ele procura a ajuda do professor de Literatura Jules Hilbert (Dustin Hoffman), para descobrir quem é e em qual história está.

O desenvolvimento é brilhante. Esperamos o tempo todo por aquele deslize que derrubará o enredo e transformará este filme em mais uma daquelas comédias simplórias. Mas não; "Mais Estranho que a Ficção" se sustenta, do começo ao fim, sem dar respostas fáceis, sem abrir mão da sua ludicidade, sem tentar nos enganar com clichês.

A prova de que arriscar não é um salto sem rede de segurança; de que é possível sim ser criativo, sem abrir mão do entrenenimento.