quinta-feira, novembro 22, 2007

O Gângster (2007)



"O Gângster" faz com a máfia negra do Harlem o que "Os Intocáveis" fez com Al Capone e "O Poderoso Chefão" com a cosa nostra: mostra as várias facetas do crime organizado, tanto do ponto-de-vista dos criminosos quanto dos que os combatem.

Denzel Washington é um ator afortunado e raras vezes se mete em arapucas - tarefa difícil no complicado mundo de Hollywood (Nicole Kidman e Jack Nicholson que o digam) -, por isto, qualquer filme em que ele aparece nos créditos merece o mínimo de atenção.

Em "O Gângster", Denzel interpreta Frank Lucas, o chefão da venda de heroína no Harlem, porém, mais do que isto, Frank é um homem de negócios. Ao ver a oportunidade de passar a perna na concorrência e tomar a liderança, ele rompe com a ordem estabelecida, que consistia em comprar a droga das mãos da máfia italiana, ou da polícia, que botava as drogas nas ruas após apreendê-las dos traficantes, e começa a comprar heroína direto do produtor, no Vietnam, trazendo-a clandestinamente em aviões do exército.

Frank Lucas é o tipo de "empresário" que, se não fosse por causa das condições sociais - negro, de bairro pobre, num país preconceituoso, numa época complicada -, poderia ter sido bem sucedido no que decidisse fazer.
Talvez o mais interessante na proposta de "O Gângster" seja justamente esta abordagem de tratar o tráfico de drogas como um negócio qualquer, gerido racionalmente como uma megacorporação.
E o grande problema de Lucas não é o ramo de atuação de sua "empresa", mas sim a sua raça, de onde ele vem. Uma sociedade racista não está acostumada a aceitar este tipo de indivíduos; enquanto eles estão por baixo, tudo bem, mas que não saiam de seu lugar!

É claro que o personagem de Russell Crowe, Richie, um policial incorruptível, não compartilha desta mentalidade. Ele combate o crime pelo próprio desejo e obrigação de fazer o que é certo. Porém, por detrás da queda de Frank Lucas, nos bastidores do poder e da concorrência, preconceito é a força-motriz.

Outro aspecto notável é que, apesar da humanização de Frank Lucas, afinal de contas ele é um homem como qualquer outro, só quer botar comida na mesa da sua família, nós torcemos para que ele seja pego. Ele é, ao mesmo tempo, o mocinho e o vilão. Queremos que ele seja punido, mas queremos que seja uma punição justa, não mero acerto de contas.

Sem dúvida, veremos "O Gângster" no tapete vermelho do Oscar 2008.

domingo, novembro 04, 2007

Listagem dos filmes resenhados


A

À Procura da Felicidade
Adaptação
Adeus, Lênin!
Água Negra
Antes do Pôr-do-Sol
Atrás da Verdade
Avalon
O Aviador

B

Babel
Balzac e a Costureirinha Chineza
Batman Begins
Beleza Americana
Bicicletas de Belleville
Bloom
Bob Esponja, O Filme
Borat
Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças


E

Efeito Borboleta
Elefante
Em Busca da Terra do Nunca
Em Nome de Deus
Encontros e Desencontros
O Encouraçado Potemkin
Entrando Numa Fria Maior Ainda
Escorregando para a Glória
O Espanta Tubarões
Eterno Amor
Eu, Robô
Exorcista, O Início
A Experiência - Das Experiment


Pearl Harbor
Pequena Miss Sunshine
Pi
O Plano Perfeito
Pleasantville - A Vida em Preto e Branco
O Poderoso Chefão
Ponto Final - Match Point
Procurando Nemo
A Professora de Piano

Q

O Gabinete do Dr. Caligari (1921)

Poucos filmes representam tão de perto o que foi o "Expressionismo Alemão", movimento artístico que predominou em terras germanas no pós-Primeira Guerra Mundial quanto "O Gabinete do Dr. Caligari". O Expressionismo Alemão se caracteriza pelos traços diagonais, pela caricatura, pelo pessimismo e desamparo.
O enredo é instigante: o personagem Francis narra uma série de assassinatos que ocorrem num povoado alemão após a instalação duma feira popular. Logo somos induzidos a suspeitar do misterioso Dr. Caligari, que apresenta Cesare, um sonâmbulo imerso no mundo do sono há anos, numa tenda na feira.

Tudo, desde o cenário até a atuação exagerada, quase grotesca, ressalta o tom pessimista do Expressionismo. Uma rápida comparação com o realismo russo já nos situa nas diferenças existentes no cinema daquela época, o primeiro se aproxima da arte, do conceito, o segundo é mais próximo de nós, com uma linguagem mais objetiva e clara.

Outro fator surpreendente em "O Gabinete de Dr. Caligari" é a reviravolta final, bastante inusitada para uma produção da década de 20, mas que pode ser considerada um clichê em nossos dias.

O filme de Robert Wiene é uma prova de que ainda podemos nos divertir com os bebês do cinema: filmes mudos, em preto e branco, com recursos limitados, mas com grande criatividade e ousadia.

sábado, novembro 03, 2007

Escorregando para a Glória (2007)


Will Ferrell não é dos piores quando se trata de comédia. Ele possui um senso humorístico peculiar, um timing interessante.
Na verdade, fazer comédia é muito, mas muito mais complicado mesmo do que drama, por duas razões simples: 1 - não é tão simples criar humor inteligente, e pastelão já não é engraçado como antes; 2 - os humoristas não recebem o mesmo reconhecimento que seus pares dramáticos.
Aliás, no Oscar 2007, Will Ferrell, Jack Black e John C. Reilly brincaram com isto, ao cantarem uma música criticando o ostracismo de atores cômicos para a premiação da Academia.

Mas o fato não é que o Oscar ignore os humoristas, ele ignora os filmes de comédia, os quais, geralmente, são muito ruins.
"Escorregando para a Glória" não é dos piores. O enredo é um pouco bisonho, dois patinadores campeões mundiais brigam durante o recebimento da medalha de ouro e são expulsos da categoria. Porém, há uma brecha no regulamento, permitindo que eles retornem para outra categoria, a de duplas. Apesar de serem rivais, eles se unem para realizar algo que nunca ninguém jamais conseguiu.
Há cenas engraçadas, mas o grande mérito é mesmo de Ferrell. O personagem dele é um bad boy, anarquista, grosseirão e viciado em sexo. Os diálogos do personagem, muitas vezes resultado de improvisos de Ferrell, são ótimos, porém, o filme é insosso. Não acrescenta muito ao espectador, nem mesmo boas risadas.

Acho que está na hora de parar um pouco e aprender as lições de Chaplin, Jerry Lewis e Mr. Bean, às vezes, o mais simples é o mais engraçado.